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terça-feira, 21 de novembro de 2017

A Educação na Finlândia

"É possível prepará-los para as provas ou para a vida. Escolhemos a segunda opção"

A terra do Papai Noel e das boas escolas. Esta é a Finlândia. Há pouco tempo, parte de nossa equipe esteve por lá para ver com seus próprios olhos como funciona o sistema educacional, considerado um dos melhores do mundo. Sem preguiça, nem perder tempo, reuniram o maior número de informações a respeito. O que descobriram deixou a todos nós, no Incrivel.club, boquiabertos. Eis os fatos:
Segundo pesquisas internacionais realizadas pela Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), três vezes ao ano as escolas finlandesas apresentam os índices de desempenho mais altos do mundo. Seus alunos (que são os que mais leem no planeta) ocuparam o segundo lugar em ciências naturais e o quinto em matemática. Porém, o que mais surpreende a comunidade pedagógica não é isso, mas sim que os alunos finlandeses são os que, por dia, passam menos tempo estudando. 
O ensino básico na Finlândia possui dois níveis:
— Primário (alokoulu), da 1ª à 6ª série
— Secundário (yläkoulu), da 7ª à 9ª série
Há ainda uma 10ª série complementar na qual os alunos podem melhorar suas qualificações, depois da qual eles vão ou para escolas técnicas ou continuar seus estudos nos liceus (lukio) — que são um tipo de escolas preparatórias. 

Os 7 princípios da etapa média
da educação finlandesa:

1. Igualdade...

  • ... das escolas;
Lá não existe isso de 'escola de elite'. A maior das escolas acolhe 960 alunos, e a menor, 11, mas todas possuem as mesmas qualidades, recursos e financiamento, proporcionalmente ao seu tamanho. Quase todas as escolas são estatais, embora meia-dúzia delas sejam em parte privadas. O diferencial dessas escolas particulares, além das mensalidades, é que os alunos levam um ritmo mais pesado; em geral são colégios de formação especial que seguem modelos pedagógicos específicos: o de Montessori, de Freinet, de Morton ou de Waldorf. Escolas de idiomas, como de inglês, francês e alemão, também são particulares. 

E, seguindo esse mesmo princípio de igualdade, na Finlândia existe um sistema paralelo de ensino da língua finlandesa que vai do jardim da infância à universidade. E também, no norte do país, na Lapônia, onde vive o povo lapão (e o Papai Noel), há o ensino de seu idioma nativo. 
Antes, os finlandeses eram proibidos de escolher em qual escola seus filhos deveriam estudar e tinham de levá-los à que estivesse mais perto de casa. Hoje se revogou essa proibição, mas a maioria dos pais continua levando seus filhos nas escolas que ficam em seus bairros, já que todas são igualmente boas. 
  • ... de todas as matérias;
Se especializar numa matéria em detrimento das outras não é algo bem visto. Por exemplo, lá ninguém pensa que matemática é mais importante do que educação artística. Pelo contrário: alunos com queda para o desenho, para a música ou para os esportes são o critério para a formação de classes especiais.
  • ... dos pais;
A profissão ou status social dos pais dos alunos são informações que os professores ficarão sabendo apenas se for necessário. Eles são proibidos de perguntar aos alunos qualquer coisa nesse sentido. 
  • ... dos alunos;
Os finlandeses não classificam os alunos segundo suas capacidades ou aspirações profissionais, tampouco há alunos 'bons' e 'maus'. É proibido fazer comparações entre alunos. Tanto os alunos mais inteligentes quanto os que têm dificuldade para aprender estão misturados aos demais, inclusive aqueles com deficiências físicas, apesar de que podem ser formadas classes especiais para alunos com deficiência visual ou auditiva. Os finlandeses tentam ao máximo integrar à sociedade aquelas pessoas que necessitam de atenção especial; a diferença de desempenho entre os alunos finlandeses é a menor do mundo!

  • ... dos professores;
Não há professores favoritos ou odiados, nem os professores têm alunos ou classes favoritas. Qualquer desvio dessa harmonia estabelecida é passível de anulação do contrato do professor. Os professores finlandeses têm o dever de cumprir na íntegra o que se espera de seu trabalho, nem mais nem menos, além do que, todos se consideram igualmente importantes na sala de professores. Por exemplo, os professores de física, de artes, de literatura são igualmente estimados.
  • ... de direitos entre adultos e crianças.
Os finlandeses chamam isso de 'tratamento respeitoso aos alunos'. Desde a primeira série são explicados aos alunos os seus direitos, inclusive o direito de prestar queixa de algum adulto a um assistente social. Isso estimula os pais a entenderem que seus filhos são indivíduos independentes, e que as pessoas são não podem ofende-las com palavras ou com violência física. Humilhar os alunos é outra coisa que os professores são proibidos de fazer, mesmo que lá as leis trabalhistas lhes permitam fazê-lo. A peculiaridade mais notória é que cada professor é contratado por apenas um ano, havendo possibilidade de se renovar ou não esse contrato. E além de tudo, professores auxiliares recebem um salário de 2500 euros, e os titulares, de 5000 euros.

2. Gratuidade

Além da educação, também são gratuitos:

  • As refeições;
  • As visitas a museus e atividades extra-classe;
  • O transporte que leva e traz os alunos se a escola estiver a mais de dois quilômetros de suas casas;
  • Todos os livros didáticos e material escolar, como calculadoras, computadores individuais e tablets.
É proibido cobrar qualquer taxa dos pais!

3. Individualidade

Para cada aluno se estipula um plano individual de estudo e desenvolvimento. Essa individualização tem a ver com o conteúdo dos livros didáticos, dos exercícios, quantidade de deveres de classe, de casa etc, e com o tempo com que se planeja realizá-los. O mesmo ocorre com o material que os professores proveem: quais alunos recebem o conteúdo mais complexo e quais os mais simples. 
Na mesma aula os alunos realizam exercícios de diferentes níveis de dificuldade e a nota final varia de acordo com as diferentes capacidades de cada um. Se hoje, por exemplo, um aluno consegue fazer os exercícios básicos satisfatoriamente, amanhã lhe será dado um exercício mais complexo. Se ele não conseguir, não tem problema... serão dados exercícios com o nível de dificuldade de ontem. 
Nas escolas finlandesas, além da formação-padrão, há duas peculiaridades no processo educativo:
  1. Apoio acadêmico aos alunos retardatários — o que em muitos países seria o papel de um professor particular. Na Finlândia os professores particulares são muito raros, uma vez que que os professores titulares nas escolas já ajudam seus alunos voluntariamente, durante ou depois das aulas.
  2. Educação 'corretiva' — Está relacionada aos problemas de compreensão do material didático escrito na língua suomi, que é falada em grande parte das escolas da Finlândia. Também serve para atender problemas de memória, dificuldades com matemática ou o comportamento antissocial de alguns alunos. A educação 'corretiva' é conduzida em grupos pequenos ou individualmente.

4. Educação Prática

Os finlandeses dizem: "É possível prepará-los ou para as provas ou para a vida. Escolhemos a segunda opção". É por isso que não se dá provas nas escolas da Finlândia, apesar de que, se o professor quiser, ele pode fazer exames de controle. Só existe uma prova obrigatória, no fim do período médio, mas ela pouco influi na avaliação feita pelos professores, nem afeta a nota final dos alunos. E o mais interessante é que os alunos não são preparados para essa prova; eles a farão usando tudo o que aprenderam até então. Nada de passar um mês antes da prova estudando em desespero! 
Na escola só se ensina o que pode vir a ser útil na vida. Saber como funciona a caldeira da metalúrgica não tem utilidade. Agora, os alunos finlandeses desde criança sabem o que é um portfólio, um contrato, um talão de cheques, sabem calcular a porcentagem do imposto sobre heranças ou a renda pessoal, como criar um site, como calcular descontos em produtos, desenhar a Rosa dos Ventos e localizar o lugar onde vivem etc...

5. Confiança

Primeiro, não se supervisiona o trabalho de funcionários e professores, nem lhes é dito como devem trabalhar ou como e o que devem ensinar. Existe um sistema centralizado de educação no país, mas ele só propõe um alinhamento básico e recomendações superficiais. Assim, cada pedagogo aplica a seus alunos o método de ensino que lhe parecer melhor. 

Segundo, a confiança nos alunos: durante as aulas é permitido fazer qualquer coisa. Se, por exemplo, durante a aula de literatura apresentam um vídeo educativo, e um aluno não estiver interessado, ele pode ir ler um livro se quiser. Há a percepção de que é a própria pessoa quem deve escolher o que é importante para sua vida.
6. Voluntarismo
Estuda quem quiser estudar. Os professores tentarão atrair a atenção dos alunos, mas, se algum não quiser prestar atenção, não tiver interesse ou não for capaz de entender a aula, será orientado depois a que busque por uma profissão prática, porém útil. Um trabalho fácil. A ideia é não ficar recheando o boletim do aluno com zeros e pontos negativos. Claro... saber construir aviões e usinas nucleares não é para todos... alguém vai ter de ser um bom motorista de ônibus!
Tendo isso em mente, os finlandeses dão valor também à escola secundária e técnica: deve-se saber se vale mesmo a pena um aluno continuar o estudo acadêmico num liceu ou se ele deve continuar os estudos na secundária, e é aí que se recorre às escolas técnicas. Na Finlândia ambas as opções são honoráveis. 
As aptidões de cada aluno são avaliadas por meio de exames e de consultas com orientadores vocacionais nas escolas. 
À primeira vista, o sistema educacional finlandês parece suave e delicado, mas isso não quer dizer que não seja sério. Por exemplo, existe um rígido controle do horário de aulas, todas as faltas devem ser 'repostas'. Se um aluno da 6ª série faltar à aula, seu professor tentará encaixá-lo em algum outro horário de outra turma da 6ª série, para que este reponha a aula... como se lhe dissessem: "Sente aí e repense sua vida". E se esse aluno começar a perturbar os colegas na aula de reposição, o tempo que passou ali deixará  de ser contado; se ele não quiser fazer os exercícios na aula de reposição, ninguém vai chamar os pais, nem ameaçá-lo, repreendê-lo, gritar com ele... nada disso. Já que os pais desse aluno são descuidados com a educação doméstica de seu filho ou filha, o que vai acontecer é uma reprovação no fim do ano. Simples!

E repetir de ano na Finlândia não é nenhuma vergonha, especialmente depois da 9ª série, pois é necessária uma preparação séria para a vida adulta e por isso mesmo é que as escolas lá têm a 10ª série — que, como dissemos no início, é opcional. 

7. Independência

Os finlandeses acreditam que a escola deve ensinar ao aluno algo muito importante: ter uma vida independente no futuro! Por isso se ensina a pensar e a adquirir conhecimento por conta própria. Os professores não precisam anunciar os temas de estudo já que tudo está escrito nos livros didáticos. Não é importante decorar fórmulas, mas sim saber procurar nas bibliografias, na Internet, usar a calculadora, ou seja, deixar à disposição dos alunos os recursos necessários para que aprendam a solucionar seus próprios problemas. 
E outra coisa... os pedagogos nas escolas não interferem nos conflitos entre alunos, dando-lhes assim a oportunidade de prepararem para as diferentes situações da vida e de desenvolverem sua capacidade de se defenderem corretamente.
O sistema educacional finlandês nas escolas 'iguais'
é organizado de formas 'diferentes'. 
 

Quando estudar, e quanto?

O ano letivo na Finlândia começa entre 8 e 16 de agosto — não há um dia específico para todas as escolas — e termina em meados de maio. Na metade do ano letivo, há 3 ou 4 dias de férias e duas semanas de descanso por causa do Natal. No semestre da primavera há outras duas semanas para as 'férias de esqui', pois as famílias finlandesas costumam sair para esquiar. Por fim, as férias da Páscoa. 

Se estuda 5 dias por semana em uma jornada única, diurna, e sexta-feira é meio período.

O que se aprende?

  • 1ª e 2ª séries:
Se aprende a ler e escrever no idioma nacional (suomi), Matemática, Ciências Naturais, Religião (segundo a crença de cada um) ou Filosofia de Vida (para quem não estiver interessado em religião), Música, Artes, Trabalho e Educação Física. Durante uma aula é possível estudar diferentes matérias ao mesmo tempo.
 
  • da 3ª à 6ª série:
Começam as aulas de Inglês; na 4ª série se adiciona algum idioma estrangeiro de livre escolha (francês, sueco, alemão ou russo). Existem outras matérias opcionais que cada escola terá em particular:  informática, carpintaria, canto coral etc. Em quase todas as escolas há aulas de música, nas quais, ao longo dos 9 anos de educação regular obrigatória, os alunos experimentarão uma grande variedade de instrumentos musicais, desde a flauta até o contrabaixo.
Na 5ª série começa Biologia, Geografia, Física, Química e História. Da 1ª à 6ª série é apenas um professor que dá aula. As aulas de Educação Física consistem em quaisquer jogos que envolvam esforço físico, de 1 a 3 vezes por semana; depois delas, é obrigatório tomar banho. As aulas de Literatura não são como imaginamos, mas há um período dedicado à leitura; somente na 7ª série é que um professor se encarregará especificamente desse período. 

  • da 7ª à 9ª série:
Se estuda Suomi e Literatura (leitura e сultura nacional), Sueco, Inglês, matemática, Biologia, Geografia, Física, Química, Primeiros Socorros, Religião (ou Filosofia de Vida), Música, Artes, Educação Física, matérias de livre escolha e Trabalho — que não é discriminado em 'para homens' e 'para mulheres': todos aprenderão juntos a fazer sopa e a cortar madeira com serrote. Na 9ª série haverá duas semanas de 'Contato com a Vida Profissional' nas quais os alunos serão mandados a ambientes adultos de trabalho.
 

Quem precisa de notas?

No país se adotou o sistema de notas de 0 a 10, porém, até a 7ª série se usa ainda o sistema de letras: Regular, Aceitável, Bom e Excelente. Da 1ª à 3ª série não há  qualificação ou nota. 
Todas as escolas fazem parte da rede eletrônica "Wilma", que funciona como um diário escolar online que os pais dos alunos podem acessar com suas senhas pessoais. Os professores escrevem nesse diário as notas (caso haja), anotam as faltas e informam o comportamento do aluno na escola. O psicólogo da escola, o assistente social, o orientador vocacional e até a enfermeira podem aí postar mensagens aos pais sobre seu filho.
Na Finlândia as notas não têm todo esse peso terrível. Elas são usadas apenas para que o aluno as veja e entenda o seu desempenho, e se motive a melhorá-lo se assim desejar. Notas não afetam de modo algum sua reputação, a reputação do professor, nem da escola. Nada disso. 

Detalhes da vida escolar

  • O terreno das escolas não é fechado, não há seguranças na entrada e a maioria delas tem um sistema automático de tranca das portas de entrada, de maneira que só se possa entrar no edifício no horário especificado.
  • Os alunos não são obrigados a sentar-se nas carteiras. Se quiserem, podem recostar-se num tapetinho no piso. Em algumas escolas as salas de aula têm sofás ou divãs. Nas salas de aula das séries primárias se usam almofadas.
  • Não se usa uniforme, nem há nenhuma obrigatoriedade sobre o modo de se vestir. O aluno pode até ir à escola de pijama, se quiser. O que se exige é que se leve para a escola um par extra de calçados, mas a maioria dos alunos mais novos só anda de meias. 
  • Quando o clima é favorável (considerando o frio que faz por lá) as aulas são dadas ao ar livre, dentro do terreno da escola ou nos bosques, ou em bancos dispostos como 'anfiteatro' no pátio. Na hora do recreio, os alunos mais novos são levados para fora por pelo menos 10 minutos. 
  • Dever de casa é coisa rara! Os alunos precisam descansar. Para evitar que os pais façam o dever de casa junto com os filhos, os professores recomendam que, ao invés disso, a família vá junta ao museu, ao bosque, à piscina etc. 
  • Os alunos não são chamados a se levantar e ir à frente para recitar o que aprenderam. O professor simplesmente lhes dá o tema da aula e em seguida vai de aluno em aluno observando seu desempenho, a ver como fazem os exercícios, e ele é auxiliado por um professor adjunto.
  • É permitido escrever com lápis no caderno e apagar quantas vezes for necessário. O professor também pode fazer correções e anotações em seus cadernos, também com lápis.

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