Na
introdução, as autoras apresentam uma obra do pintor francês Gustave Coubet
(1817-1877), conhecida como o ateliê intitulado Interior do Meu ateliê,
produzida em 1854-1855.
Através
da leitura de sua obra, percebe-se a articulação de três campos conceituais no
ensino da arte: a criação/produção, a percepção/análise e o conhecimento da
produção artístico-estética da humanidade, que para ser entendida é preciso
contextualizá-las no espaço e no tempo.
O
ensino da arte deve ser pautado nos três campos conceituais pensando no desenvolvimento
expressivo que é uma trajetória muito instigante, pois é preciso entender quais
os conhecimentos prévios que os alunos já possuem, estes oferecidos pelo
sistema de ensino, seus valores culturais, as predisposições genéticas e de
forma particular as produções, percepções e concepções artísticas da criança.
As pesquisadoras organizam um estudo do
processo expressivo vivido pelas crianças, chamado de “cirandando” no movimento
da metamorfose expressiva, subdividindo em quatro movimentos, e nos desafiam a
pensar no movimento continuo da expressão “cirandar” e no processo individual
da metamorfose, de crescimento constante que cada sujeito enfrenta durante o
processo de conhecimento. Apresentam os movimentos não como etapas a serem
vencidas, mas como amadurecimentos adquiridos durante o movimento que nos
remete a brincadeira de ciranda, em que é possível a troca de experiências através
da mudança de expressão.
Elas
utilizam os teóricos PIAGET e GARDNER para organizar estes movimentos que se
definem como:
•
1º MOVIMENTO - Ação -Pesquisa-Exercício
•
2º MOVIMENTO - Intenção-simbólica
•
3º MOVIMENTO - Organização-regra
•
4º MOVIMENTO - Poética-pessoal
PRIMEIRO
MOVIMENTO - Ação – Pesquisa – Exercício
Segundo
Gardner, o primeiro movimento é intuitivo, construído a partir das interações
com os objetos físicos e com outras pessoas, adquiridas através de sistemas de
percepções sensoriais e interações motoras que devem ser estimuladas em
crianças, mesmo as que possuem limitações físicas.
Para
Piaget, esta fase é sensório-motora, pois enfatiza o movimento corporal, pela
exploração sensorial e pela inteligência prática. A criança ainda não cria signos
de forma consciente, mas está inserida no mundo da cultura que é simbólico,
portanto sua ação é pela imitação dos gestos e som, ela imita também a ação dos
adultos.
A
criança está envolvida com ações que a leva a pesquisar o mundo que a rodeia.
Nesse movimento ela não tem medo de arriscar, por isso olha, cheira, toca, ouve,
se move, experimenta, sente e pensa... A criança utiliza o corpo para expressar
suas linguagens, pois o corpo nessa fase é ação/pensamento.
Esse
movimento se manifesta em garatujas, que neste momento não tem significado
simbólico. Garatujas gráficas, sonoras e corporais são exercitadas pelas
crianças e vão se modificando através do tempo. No início são incontrolados,
com traços desiguais que escorregam no papel como longitudinais e circulares. A
garatuja nos gestos se repete no ato de comer com movimentos circulares no
prato e longitudinais na ação de levar a colher na boca, também no ato de
brincar com a massinha fazendo bolinhas e cobrinhas.
O
professor precisa estar atento a esses gestos como garatujas em si, para poder
ver as diferenças e pensar em intervir na ampliação das possibilidades de cada
criança. Nesta faixa etária, a tarefa do professor é oferecer várias
possibilidades de pesquisa valorizando a exploração gráfica, plástica, tátil,
sensorial, sonora e corporal, criando projetos a partir da observação da ação
da própria criança, sem pressa que ela deixe as garatujas e passe para o
desenho reconhecível, pois é muito importante que ela avance naturalmente de
uma fase para a outra.
SEGUNDO
MOVIMENTO - Intenção-simbólica
Denominado
simbólico para Gardner e Piaget, ocorre no estagio pré-operatório (entre 2 e
sete anos de idade), possui caráter semiótico e representacional. Nesse
movimento a criança constrói seus símbolos através de suas ações e de
diferentes formas de linguagem, representa os objetos e as ações sobre eles,
representando também seus conceitos.
Momento
que a criança inicia as brincadeiras de faz de conta que são representações
sobre representações com valor simbólico, lúdica e comunicativa. A escola deve
valorizar o fazer artístico do aluno, pois é fundamental para o desenvolvimento
da linguagem oral e escrita.
Neste
movimento simbólico, a arte plástica inicia por meio das criações tridimensionais,
pois as bolinhas e as cobrinhas vão virando objetos. No desenho a passagem se
dá lentamente dos rabiscos para as primeiras tentativas de letras. A criança
começa a diferenciar desenhos de letras e as figuras humanas começam a
aparecer. Os desenhos aparecem soltos no espaço e não há uma organização das cenas
no papel, elas se expressam através da fala, as cores também são distantes da
realidade, pois usa qualquer cor para colorir o desenho e não a que a cultura
impõe.
Na
música, o movimento simbólico transforma aos sons de tambores em leões, flautas
em pássaros e cocos em cavalos velozes. As canções interessam mais pelas
historias que contam, pelo jogo que propicia. Na linguagem cênica, as crianças
transformam cadeiras em carrinhos, lençóis em capas ou mantos.
Nesse
movimento a criança inventa, propõe novas relações e cria a partir de suas
próprias ideias. Os símbolos são construídos pela criança pautada nas suas
preferências culturais e pessoais.
3º
MOVIMENTO
Gardner
denomina este movimento de notacional, pois a produção da criança é denominada
pelo desejo de registrar tudo.
Para
Piaget, o segundo momento expressivo corresponde ao estágio das operações
concretas, apresenta avanços consideráveis na compreensão de conceitos em
profunda relação com a concretude de suas interações com o mundo, as pessoas e
os objetos. A criança demonstra essa concretude ao representar o chão da cena.
As relações espaciais são uma das conquistas mais importantes desse movimento.
A
busca pela representação mais realista muitas vezes traz medo, a preocupação em
fazer bem feito, faz com que a criança utilize muito a borracha e a régua. Sua
representação é do todo ou quase todo o perímetro, fundindo todas as partes. A
cor obedece as regras e organização.
No
terceiro momento expressivo há uma autocritica quanto a produção na comparação
entre o real, sua imaginação e sua produção, expectativas que leva a criança a
abandonar sua produção ou amassá-la e jogar no lixo. A criança cria espaços com
seus brinquedos e objetos. Está presente o jogo de construção, a realidade é o
ponto de partida para o imaginário. A narrativa dos acontecimentos aparececomo
tema de suas produções em desenhos pinturas e teatros.A criança cria
espetáculos e estabelece diferenças entre palco e plateia, a música enriquece
com informações e conceitos que se integram aexpontaneidaderegras de grafia;
noções técnicas, analise formal. A experimentação do registro dos sons em
partituras é um interessante exercício de construção de regras, ampliando o
conhecimento sobre o que é notação, introduzindo convenções de linguagem
musical. Há um grande desejo de fazer coisas, concretizar empreendimentos com
perseverança, compartilhando obrigações e projetos com empenho. Caracteriza
pela invenção de relações e regras que geram critérios próprios, na busca de
soluções criativas que vao alimentando um pensamento criado com maior
autonomia.
4°
MOVIMENTO
Nesta fase oprazer de manejar e
explorar, a ótica pessoal de ver-pensar-sentir o mundo, a apresentação dos
códigos das linguagens artísticas, a procura do estilo pessoal, mesclando
estratégias pessoais e gramáticas culturais,construindo sua poética.O medo de
expor, a preferência pela repetição de formas conquistadas, a busca de modelos e da ótica dos outros, o sentimento de
incompetência, a obediência ou o abandono de tarefas sem significados. São
comportamentos vividos pelo próprio jovem, fruto da sua própria história, com
implicações na construção de sua identidade problematizada também como um
produtor.
As
autoras citam Gardner, que afirma que nesta fase o adolescente tem uma
preocupação em representar as formas abstratas que podem ser vistas nos
doodles, rabiscos sem sentido, que eles fazem nas carteiras, nos banheiros nas
agendas, nas ruas. Nesta fase o ensino da arte deve ser estimulado e voltado
para o aprendiz para que ele entre em contato com experiência estética mais
formalizada.
Segundo
Martins, Picosque e Guerra (1998), a percepção é a fusão entre pensamento e
sentimento que nos possibilita significar o mundo. O ser humano é a soma de
suas percepções singulares, únicas. A escola deve oferecer oportunidade que
explore não só o cognitivo do aluno, mas permitir que através dos sentidos ele
esteja em contato com o mundo. Afirmam ainda que o ensino da arte não devia
enfatizar na teoria das cores, mas provocar a sensibilidade cromática; não na
arte impressionista, mas no resgate da vitalidade das cores e das coisas, na
fugacidade impressa pelo gesto do artista; não na execução de ritmos na
atividade com a bandinha, mas na exploração percursiva dos sons, em busca de
frases sonoras.
Elas
acrescentam que a imaginação é também o modo de conhecer.
Quando
a criança, seu pensamento projetante, maneja a matéria – massinha, lápis e
papel, tecidos, única disciplina que verdadeiramente se concentra roupas,
sons-e cria no contato com ela, a
imaginação criadora se desvela. Uma imaginação que também é capaz de antecipar,
antever, pois imaginar é também já ter hipóteses para sua ação.
De
acordo com Martins, Picosque e Guerra (1998), valorizar o repertório pessoal de
imagens, gestos, “falas”, sons, personagens, instigar para que os aprendizes
persigam ideias, respeitar o ritmo de cada um no despertar de suas imagens
internas são aspectos que não podem ser esquecidos pelo professor de arte.
Essas atitudes poderão abrir espaços para o imaginário.
Leitura
complementar
O ensino de artes é a única disciplina que
verdadeiramente se concentra no desenvolvimento de experiências sensoriais,
pois, o ensino é baseado no desenvolvimento de sensibilidades criadoras que
tornam a vida satisfatória e significativa.
Toda escola deve tentar estimular cada aluno a se
identificar com as suas próprias experiências, auxiliando-o a desenvolver, ao
máximo, os conceitos que expressaram os seus sentimentos, as suas emoções e a
sua própria sensibilidade estética.
As pesquisas sobre o desenvolvimento expressivo da
criança são recentes, começaram no
início do século XX. Alguns desses teóricos são: Luquet, Lowenfeld, Brittain, Read, Arnhein,
Kellogg, Brent, Marjoeir Wilson, Nancy Smith e Florence de Mèredieu.
Luquet um dos pioneiros do estudo do desenho
infantil, autor da obra de, “O desenho infantil (1927), a única
traduzida para a língua portuguesa e, construiu seu pensamento abordando
diferentes áreas do conhecimento como a filosofia, a lógica, a matemática, a
psicologia, a antropologia e a educação.
Os estágios sequênciais presentes na classificação
de Viktor Lowenfeld, autor do livro “Desenvolvimento da capacidade criadora”
(1947), deixa como legado para a educação, o entender do desenvolvimento
infantil, através das produções artísticas.
Lowenfeld demonstra a sua preocupação e dedicação
com a infância, especificamente com o desenvolvimento e os interesses das
crianças, revela a sua concepção de criança, isto é, o mais precioso bem da
sociedade.
Teoria Espiral do Desenvolvimento Musical
keith Swanwick
CLASP
•
APRECIAÇÃO: Ouvir diversos gêneros musicais,
vivenciar assistindo;
•
PERFORMANCE: Execução , tocar, ter contato com os
conceitos musicais , leitura partitura;
•
COMPOSIÇÃO MUSICAL: Criar de acordo com o que ela
apreciou, vivenciou na performance.
PETER
SLADE INGRID
DORMIEN KOUDELA
•
Método do jogo dramático Metodo do jogo intencional
Linguagem teatral com classificação nos jogos de Piaget
1º Estágio
É característico apenas da criança pequena que:
•
Centra-se num só aspecto do objeto
•
Faz associações inconscientes
•
Interessa-se por cor e tema
•
Gosta de quase todas as imagens
•
Construção da
ideia de que é um quadro e do modo como funciona a representação
2º Estágio
•
O tema é algo identificável. Não importa as linhas,
texturas e formas, mas sim o que elas representam.
•
Os critérios são: Beleza e realismo. Há também a
compreensão das dificuldades técnicas que o artista teve ao fazer o quadro.
Parsons aponta que as expressões são os
"aspectos da experiência, estados de espíritos, significações, emoções:
coisas subjetivas”.
3º Estágio
•
O tema é algo mais abstrato e intimo (subjetivo). O
sentido do objeto representado é o que importa, e não o objeto em si.
Os critérios são: o realismo emocional (queremos
sentir), e a expressão.
4º Estágio
•
A organização e o estilo da obra que vai chamar
atenção, e a forma como ela foi distribuída no quadro, vai passar uma impressão
de compreensão da obra no todo.
•
A interpretação predomina, pois cada indivíduo vai
interpretar e compreender de uma forma diferenciada.
•
O diálogo com o universo coletivo artístico vão ser
os elementos essenciais na compreensão e na interpretação das imagens e das
obras.
5º Estágio
•
O juízo de
interpretação e compreensão está mais apurado, pois a interpretação é a
reconstrução do sentido do juízo e avaliação do valor que a obra transmite.
•
O indivíduo elabora significações cada vez mais
complexas sobre as obras, e sobre as imagens, reflete um crescimento na
interpretação e alcança, cada vez mais, um maior grau de autonomia em relação
ao que é apreciado.
Referência:
MARTINS, Miriam Celeste Ferreira Dias; PICOSQUE, Gisa; GUERRA, M.
Terezinha Telles. Didática do Ensino de
arte: a língua do mundo: Poetizar, fruir e conhecer arte. Parte III Aprendiz da Arte. Leitura complementar.
São Paulo-FTD, 1998. p.91-125.