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segunda-feira, 7 de agosto de 2017

O Pedagogo em espaço não escolar

A palavra pedagogia teve seu surgimento na Grécia Antiga e significava aquele que conduzia as crianças à escola. O pedagogo naquela época era o escravo condutor, desmerecendo assim sua função. Libâneo (2001, p. 11) elaborou questionamentos sobre o que vem a ser o pedagogo e define que trata-se de um profissional que atua em várias instâncias da prática educativa, direta ou indiretamente ligadas à organização e aos processos de transmissão e assimilação de saberes e modos  de ação, tendo em vista objetivos de formação humana previamente definidos em sua contextualização histórica.
                        
Quanto à pedagogia, Libâneo (2001) afirma que há uma distinção entre o trabalho pedagógico e o trabalho docente, eliminando a ideia de que o pedagogo obrigatoriamente deve exercer sua profissão exclusivamente em uma escola.

O Conselho Nacional da Educação, por meio da Resolução CNE/CP/2006, institui as diretrizes Curriculares Nacionais para o Curso de Graduação em Pedagogia. Este documento retrata o perfil do pedagogo disposto a trabalhar com educação em espaços escolares e também não escolares. Portanto, é importante conceituar o que vem a ser educação formal, não formal e informal, haja vista que o pedagogo não está habilitado a trabalhar única e exclusivamente com a educação formal.

Alguns autores costumam a diferenciar somente educação formal e não formal, todavia Maria da Glória Gohn (2006) faz uma distinção entre os seguintes conceitos: Educação Formal, Informal e acrescenta a Não-Formal. Ela afirma que:

A princípio podemos demarcar seus campos de desenvolvimento: a educação formal é aquela desenvolvida nas escolas, com conteúdos previamente demarcados; a informal como aquela que os indivíduos aprendem durante seu processo de socialização - na família, bairro, clube, amigos etc., carregada de valores e culturas pró- prias, de pertencimento e sentimentos herdados; e a educação não-formal é aquela que se aprende "no mundo da vida", via processos de compartilhamento de experiências, principalmente em espaços e ações coletivos cotidianas. (GOHN, 2006, p. 2-3)

A educação não formal destaca os processos educativos que têm uma intencionalidade na ação, pois prevê troca de conhecimento, envolve um processo interativo de ensino e aprendizagem e proporciona a construção de aprendizagens de saberes coletivos que, por sua vez, não têm a formalidade do ensino regular, mas o pedagogo pode e deve atuar como um agente educativo nos diferentes espaços em que ela funciona: Clubes, Centros Comunitários, ONGs, Organização Não-Governamental, Museus etc.

Padilha (2007) explica que quando abordamos a educação não formal: “estamos nos referindo a toda e qualquer experiência e ação educacional que acontece na sociedade, que esteja fora das escolas regulares”. Dessa maneira, todo processo educativo para além dos muros escolares, que aconteça de forma intencional, corresponde à educação não formal. Ainda expõe que: “São geralmente, iniciativas da sociedade civil, institucionais ou não, com ou sem apoio do Estado, que oferecem cursos voltados para as mais diversas modalidades educacionais.” (PADILHA, 2007, p. 90).

Gohn (1999), ao afirmar que a educação não formal diz respeito às aprendizagens políticas dos direitos dos indivíduos como cidadãos, também enfatiza a participação coletiva e o desenvolvimento de habilidades e potencialidades.

Na Resolução CNE/CP 1/2006 é apresentado, em parágrafo único, que as atividades docentes também compreendem participação na organização e gestão de sistemas e instituições de ensino, englobando, entre outros itens, o item IV, que aborda o “trabalhar, em espaços escolares e não escolares, na promoção da aprendizagem de sujeitos em diferentes fases do desenvolvimento humano, em diversos níveis e modalidades do processo educativo”. De acordo com o art. 6. Da Resolução CNE/CP 1/2006:

A estrutura do curso de Pedagogia, respeitadas a diversidade nacional e a autonomia pedagógica das instituições, constituir-se-á de: I - um núcleo de estudos básicos que, sem perder de vista a diversidade e a multiculturalidade da sociedade brasileira, por meio do estudo acurado da literatura pertinente e de realidades educacionais, assim como por meio de reflexão e ações críticas, articulará: a) aplicação de princípios, concepções e critérios oriundos de diferentes áreas do conhecimento, com pertinência ao campo da Pedagogia, que contribuam para o desenvolvimento das pessoas, das organizações e da sociedade; b) aplicação de princípios da gestão democrática em espaços escolares e não escolares;

Levando em consideração essa legislação, é importante rever também a formação do pedagogo que acaba priorizando pelo exercício da docência como eixo central do seu trabalho. É claro que a docência é o cerne da pedagogia, mas o campo de atuação do pedagogo não pode ser restrito à docência, uma vez que essa é apenas uma das especificidades desse profissional.

Um dos espaços de atuação do pedagogo é o museu, uma vez que este é um espaço em que coexistem diferentes profissionais da educação. O educador no museu pode ser um historiador, um pedagogo, um cientista etc.

No museu, o pedagogo trabalha com educação e cultura. Além de informar e guiar os visitantes, pode desempenhar outras funções como agendar visitas e adaptar conteúdos às diferentes faixas etárias dos visitantes. É possível que seja um mediador entre a bagagem que os estudantes (visitantes) trazem e as informações/conhecimentos disponibilizados nos próprios museus.

A presença do pedagogo em empresas é algo que está crescendo a cada dia e, apesar de existir alguns preconceitos com esse profissional, sua atuação já está se solidificando nesse campo. Holtz (2006) detalha aspectos pertinentes às responsabilidades do pedagogo empresarial, entre os quais estão:

1. Conhecer e encontrar as soluções práticas para as questões que envolvem a otimização da produtividade das pessoas humanas (...); 2. Conhecer e trabalhar na direção dos objetivos particulares e sociais da Empresa onde trabalha. 3. Conduzir com atividades práticas, as pessoas que trabalham na Empresa - dirigentes e funcionários (...). 4. Promover as condições e atividades práticas necessárias - treinamentos, eventos, reuniões, festas, feiras, exposições, excursões, etc...;. 5. Aconselhar, de preferência por escrito, sobre as condutas mais eficazes das chefias para com os funcionários e destes para com as chefias (...); 6. Conduzir o relacionamento humano na Empresa, através de ações pedagógicas, (HOLTZ, 2006, p. 15).

Inicialmente, quando o pedagogo foi introduzido em empresas, ele tinha seu campo de atuação delimitado ao setor de RH, investindo na contratação, fazendo entrevistas ou selecionando candidatos de acordo com o perfil da empresa. Atualmente, o pedagogo empresarial atua como elemento central na organização empresarial, sendo responsável, muitas vezes, por capacitações e treinamentos, motivação na empresa, divulgação do produto, gestão da qualidade, dinâmicas de grupo, entre outras ações.

A pedagogia empresarial é uma área que está crescendo, e a formação do pedagogo com disciplinas relacionadas à didática, à prática de ensino e docência de um modo geral, pode contribuir com a função comunicativa desse profissional na empresa.

Atualmente, diversos hospitais contam com o trabalho da pedagogia hospitalar, entretanto, há variações no desempenho das funções que cada pedagogo pode assumir nesse espaço não escolar.

O pedagogo no hospital acompanhará o aluno (criança ou adolescente) nos momentos de internação, reabilitação e recreação, podendo fazer uma ligação entre a educação formal (escola) e a necessidade transitória de ausência escolar, para que seja garantida a continuidade do ano letivo, a fim de evitar o que a criança afastada da escola para cuidar da saúde, não fique prejudicada pedagogicamente.

Alguns hospitais disponibilizam uma “sala hospitalar” ou uma “brinquedoteca”, nas quais os pacientes podem buscar, de forma lúdica, o apoio emocional, a continuidade nos estudos, a recreação, o lazer etc. Cabe ao pedagogo ser o mediador desse ambiente, oferecendo apoio escolar, bem como atividades prazerosas.

Outro espaço de atuação do pedagogo são as editoras, que podem contratar esse profissional para prestar serviços pedagógicos à instituição. O pedagogo pode contribuir com materiais para publicação, sendo autor e co-autor de livros didáticos, de literatura e paradidáticos. Pode também realizar assessoria pedagógica, isto é, com base numa determinada obra, pode elaborar um material (encarte pedagógico), com sugestões e orientações didáticas aos professores que forem adotá-la.

Podem atuar ainda como avaliadores dos conteúdos das obras, cuidando para que nenhum conceito equivocado seja publicado, sendo, dessa forma, uma espécie de “revisor temático”, oferecendo suporte aos demais autores, desenvolvendo também projetos pedagógicos, cujo objetivo maior é a divulgação cultural de materiais (impressos, vídeos, áudios etc.).

O pedagogo também pode atuar em presídios e instituições correcionais, porém, os cursos de pedagogia não oferecem formação específica para essa área.

Os educadores sociais das penitenciárias são servidores públicos que prestam concurso para trabalhar com detentos, assessorando com educação, palestras de conscientização, aulas (alfabetização de adultos), tutores de EAD, dentre outras funções. Entretanto, na realidade há poucas vagas para esse mercado de trabalho e os educadores, muitas das vezes, acabam tendo desvio de função, cumprindo, entre outras funções, com o papel administrativo dentro da instituição penitenciária.

O pedagogo, como agente social, pode trabalhar com ações educativas nesses espaços, contribuindo com seu compromisso moral e ético, e poderá servir de inspiração para os infratores e criminosos, para a mudança de vida, com o objetivo maior de reinserção e ressocialização dos detentos. Outro aspecto a ser considerado é que o pedagogo pode atuar como tutor de EAD de cursos profissionalizantes, servindo de base para a profissionalização do interno, facilitando seu (re)ingresso no mercado de trabalho.

Podemos concluir que o pedagogo, diferente do que muitos pensam, possui outras possibilidades de atuação além da escola. Faz se necessário que este profissional se imponha no mercado de trabalho e não se deixe diminuir, pois, assim como outros profissionais, possui uma formação acadêmica que lhe possibilita atuar em outras áreas que não a área da educação. Cabe a ele ser eficiente, criativo, demonstrar dinamismo, habilidade de planejamento, monitoramento e avaliação, dentre outros aspectos. O perfil, como fora descrito acima, é abrangente, tendo como exigências posturas e atitudes necessárias a qualquer profissional.

Referência bibliográfica

BRASIL. Resolução CNE/CP 1/2006. Diário Oficial da União, Brasília, 16 de maio de 2006, Seção 1, p. 11

CERONI, Mary Rosane. O perfil do pedagogo para atuação em espaços não-escolares. Anais do I Congresso Internacional de Pedagogia Social, 2006. São Paulo. Faculdade de Educação, Universidade de São Paulo. Disponível em: . Acesso em: 03 dez. de 2013.

GOHN, Maria da Glória. Educação não-formal e cultura política. São Paulo: Cortez, 1999.

______. Educação não-formal na pedagogia social. Anais do I Congresso Internacional de Pedagogia Social. 2006. São Paulo. Disponível em: . Acesso em: 14 dez. de 2013.

HOLTZ, Maria Luiza M. Lições de pedagogia empresarial. MH Assessoria Empresarial Ltda., Sorocaba SP, 2006. Disponível em: . Acesso em: 22 abr. de 2014. LIBÂNEO, José Carlos. Pedagogia e pedagogos: inquietações e buscas. Educar em Revista, n. 17, 2001. Curitiba: UFPR. p. 153-176


PADILHA, Paulo Roberto. Educar em todos os cantos: reflexões e canções por uma educa- ção intertranscultural. São Paulo: Instituto Paulo Freire, 2007.

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