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terça-feira, 22 de agosto de 2017

A psicanálise dos contos de fada

Fichamento do conto “A rainha abelha”

Nenhum conto de fadas faz justiça à riqueza de todas as imagens que incorporam os processos interiores mais complexos. Mas uma pequena estória conhecida, dos irmãos Grimm, intitulada “A Rainha Abelha”, pode ilustrar a luta simbólica pela integração da personalidade contra a desintegração caótica. A abelha é uma imagem particularmente adequada para os dois aspecto opostos de nossa natureza, pois criança sabe que a abelha produz o mel mas que também pode picar dolorosamente. Sabe também que a abelha trabalha duro para realizar suas tendências positivas, colhendo o pólen com o qual produz o mel.

Na “Rainha Abelha” os dois filhos mais velhos de um rei partem em busca de aventura e levam uma vida tão desregrada e dissoluta que nunca mais retornam ao lar.

Em resumo, levam uma existência dominada pelo id, sem qualquer consideração para com as requisições da realidade ou as exigências justificadas e críticas do superego.

O terceiro e mais jovem dos filhos, chamado Simplório, parte para encontrá–los, e com muita persistência o consegue.
Mas os irmãos zombam de ele achar que, na sua simplicidade, poderá se sair na vida melhor do que eles, que são supostamente muito mais sabidos. Superficialmente, os dois irmãos estão certos: à medida que a estória se desenrola, Simplório é mesmo incapaz de dominar a vida, representada pelas tarefas difíceis que eles todos são solicitados a executar – com exceção de que ele é capaz de chamar em sua ajuda seus recursos internos, representados por animais prestativos.

Viajando os três irmãos pelo mundo, chegam a um formigueiro. O mais velho deseja destruí–lo só para gozar o terror das formigas. Simplório não permite e diz: “Deixe os animais em paz, não vou permitir que você os perturbe”. Em seguida, chegam a um lago onde os patos estão nadando. Os irmãos mais velho, só considerando seus anseios e prazeres orais, querem pegar alguns patos e assá-los. Simplório também o impede. Prosseguem, chegam a um ninho de abelha, e os irmãos então desejam queimar a árvore que sustenta a colméia para conseguir o mel. Simplório novamente interfere, insistindo que os animais não devem nem ser perturbados nem mortos.

Os três irmãos finalmente chegam a um castelo onde tudo foi transformado em pedra ou se encontra grisalho que o anãozinho apresenta ao mais velho três tarefas, que devem ser realizadas no prazo de um dia, para desmanchar o feitiço lançado contra o castelo e seus habitantes. A primeira tarefa é juntar mil pérolas que estão espalhadas e escondidas no musgo da floresta. Mas o irmão é advertido de que se falhar nesta tarefa será transformado em pedra. O filho mais velho tenta e falha, e a mesma coisa acontece com o segundo irmão.

Quando chega a vez de Simplório, ele vê que também não está à altura da tarefa. Sentindo-se derrotado, senta-se e chora. Neste ponto, as cinco mil formigas que ele salvou vêm em sua ajuda e juntam as pérolas para ele. A segunda tarefa é buscar a chave dos aposentos da filha do rei dentro de um lago. Desta vem os patos que Simplório protegeu chegam, mergulham no lago, e entregam – lhe a chave. A tarefa final é selecionar dentre três princesas adormecidas que parecem todas iguais a mais jovem e mais meiga. A rainha da colméia que Simplório salvou vem agora em sua ajuda pousa nos lábios da princesa que Simplório deve escolher. Com as três tarefas realizadas, o feitiço é rompido eu encantamento tem fim. Todos os que estavam dormido ou transformado em pedra – incluindo os dois irmãos de Simplório – retornam a vida. Simplório casa–se com a mais nova das princesas e, finalmente, herda o reinado.

Os dois irmãos que não se mostravam suscetíveis às solicitações de integração da personalidade não conseguiram enfrentar as tarefas da realidade. Insensíveis a qualquer coisa além dos aguilhões do id, foram transformado em pedras. Como em muitas estórias de fadas, esta não simboliza a morte; representa a falta de humanidade verdadeira, uma incapacidade de responder aos valores mais altos, de modo que a pessoa, estando morta para aquilo de que se trata a vida em seu melhor sentido, bem podia ser feita de pedra. Simplório (representando o ego), apesar de sua virtudes óbvias, embora obedeça ao comando de seu superego que lhe diz ser errando perturbar por capricho ou matar, sozinho também é inferior às exigências da realidade (simbolizadas pelas três tarefa que tem que executar),como o foram seus irmãos. Só quando a natureza animal é auxiliada, reconhecida como importante e harmonizada com o ego e o superego é que empresta seus poderes à personalidade total. Depois de conseguir desta forma uma personalidade integrada, podemos realizar o que parecem milagres.

Longe de sugerir que subjuguemos a natureza animal ou nosso ego ou superego, o conto de fadas mostra que cada elemento deve receber o que é devido; se Simplório não seguisse sua bondade interior (leia – as superego) e protegesse os animais, estas representações do id nunca teriam vindo em sua ajuda. Os três animais, incidentalmente, representam diferentes elementos: as formigas representam a terra; os patos, a água o; as abelhas, o ar onde voam. Novamente, só a cooperação dos três elementos, ou aspectos de nossa natureza, permitem a realização. Só depois que Simplório conseguiu sua integração completa, simbolicamente expressa na realização das três tarefas, é que se torna dono de seu destino, que nos contos de fadas é expresso pelo fato de ele tornar-se rei.

Fichamento do conto “Simbad, o marujo e Simbad, o carregador”
Em muitos contos de fadas, existe uma dualidade visível entre o ID e o Ego, ou seja, entre o prazer e a realidade. O caso se repete em Simbad, também chamado de Simbad, o carregador e Simbad, o Marujo. As duas indentidades, na estória, representam a mesma pessoa, apesar de um conversar literalmente com a outra.

No inicio do conto, encontramos um carregador chamado de Simbad, que sonha com as luxurias do dono da mansão aonde trabalha, um homem cujo nome é igual a dele. A origem da riqueza do patrão é dele e do trabalho do Simbad, é desse homem rico, mas todas as aventuras terminam com ele voltando para a mansão e contando sua riqueza.
A criança identifica-se com o protagonista ao perceber que a estória é dividida em sete partes, representando o sete dias da semana, e os dois protagonistas, que representam a realidade (trabalhador) e a fantasia (riqueza). Pode-se dizer que o conto em si é um grande sonho.

Fichamento do conto “As três plumas”

Na estória “As três plumas” dos contos Grimm, o número três é similar aos três manifestações da mente na psicanálise.A chave do conto não está em demonstrar essa tripartição da mente humana, mas em mostrar como é necessário apreciar o inconsciente para obter seus poderes. Igualmente, a tradução desse contexto na estória se manifesta quando o herói é visto como um tolo e que mesmo assim, acaba por vencer dos seus dois irmãos “espertos” e superficiais.

O irmão mais novo, o simplório, é reprimido por estar próximo a base natural da vida humana e sua vitória exprime que uma mentalidade que se afasta do natural não é benéfico. No conto “Cinderela”, encontramos o mesmo tipo de trama. Porem a grande diferença reside no fato de que a infelicidade inicial da criança, quando esta é reprimida por ser “tola, não é representada. É a tolice que a deixa invulnerável à sentir-se triste desse fato.

Geralmente os heróis, nesse tipo de estória, agem apenas quando surge um elemento exterior e seu desenvolvimento apenas se completa quando a mesma nos faz associar nossa existência a eles. O fato de que a criança se sente inferior diante de um mundo que ela não compreende é aludido quando o herói é menosprezado no inicio do conto.

Sempre o protagonista é visto como feliz anterior ao problema exterior devido a sua falta de expectativa. Quando o ser é confrontado com alguma expectativa oriunda dos pais/mundo exterior é que ele começa a se sentir menosprezado e passa a desenvolver o “superego”.
 A simplicidade inicial do protagonista abre caminho para a expectativa do futuro da criança, que se vê já construindo uma identidade quando percebe que o que faz não algo valorizado. Apenas após ouvir varias vezes a estória é que a criança se familiariza com ela pois sua auto-estima está em jogo e o sucesso ilhe provoca um desenvolvimento mais interior.

Estórias como “O patinho feio” de Hans Christian Anderson,  apesar de indicar um mesmo inicio, com o herói sendo o último a nascer e menosprezado por sua simplicidade, estes são mais voltados para adultos por apresentar outra espécie no conto além do humano. A criança ao lê-lo, pode querer pertencer a outra espécie por sentir que está menosprezada, uma vez que ele terá que se desenvolver diferentemente das outras, que são humanos.

Muitos contos de fada sugerem que a criança deve-se tornar superior que seus parceiros humanos, algo não apresentado no Patinho feio, que faz nada e consegue tudo no final. A criança necessita de uma visão de que pode escapar o destino, algo não apresentado no conto de Anderson.

O número três é sempre empregado para o leitor associar o protagonista à si mesmo, independente que o primeiro seja o mais velho ou o mais novo, todos sentem ciúmes. Os outros irmãos nunca se diferenciam um do outro, sendo maus e superficiais em quase todo conto. A junção do numero três e o inevitável sentido dos números para nosso inconsciente (por exemplo: Um representa nós mesmo e dois representa um casal) faz com que o leitor nunca escape da sua capacidade de associar o herói a si mesmo. Apenas quando o filho ultrapassa os pais é que ele se vê como um si mesmo, portanto é um grande feitio para a criança fazer isso. Ambiguamente, a criança só cresce com a ajuda de um adulto.

O conto se inicia com um rei que está à beira da morte e que decide deixar o reino para o melhor filho. Para descobrir quem é, ele manda os seus três filhos procurar os tapetes mais lindos do reino seguindo a direção tomadas por três penas que foram soltas por ele mesmo. Os dois filhos mais velhos, que são considerados espertos, seguem seus respectivos penas e riem do fato de que Parvo, o protagonista, deve ficar sentado ali na frente porque sua pena caiu ali. Mas o herói logo percebe que ali tem um alçapão e se adentra ao desconhecido.

Os irmãos não se desenvolvem, mesmo com a repetição da prova três vezes, demonstrando que o super ego por si só não desenvolve o ser humano. Mais tarde isto é comprovado pelo fato de que a mulher do Parvo, uma rã transformada em uma linda mulher, é capaz de saltar por um anel de fogo, enquanto as mulheres encontradas pelos seus irmãos, que são camponesas, acabam por quebrar todos os ossos. Isso demonstra que é necessária também habilidade.

Qual a importância da psicologia para a formação do professor?

A psicologia encontra-se como uma das disciplinas que precisa auxiliar o professor a desenvolver conhecimentos e habilidades, além de competências, atitudes e valores que possibilitem a ele ir construindo seus saberes docentes a partir das necessidades e desafios que o ensino, como prática social, lhe coloca no cotidiano.

O conhecimento psicológico contribui para melhorar a compreensão e a explicação dos fenômenos educativos, porém seu estudo deve facilitar do mesmo modo para ampliação e aprofundamento do conhecimento psicológico.

Referência bibliográfica


BETTELHEIM, Bruno. A psicanálise dos contos de fadas. 14. ed. São Paulo: Paz e Terra, 2000.

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