A
palavra pedagogia teve seu surgimento na Grécia Antiga e significava aquele que
conduzia as crianças à escola. O pedagogo naquela época era o escravo condutor,
desmerecendo assim sua função. Libâneo (2001, p. 11) elaborou questionamentos
sobre o que vem a ser o pedagogo e define que trata-se de um profissional que
atua em várias instâncias da prática educativa, direta ou indiretamente ligadas
à organização e aos processos de transmissão e assimilação de saberes e modos de ação, tendo em vista objetivos de formação
humana previamente definidos em sua contextualização histórica.
Quanto
à pedagogia, Libâneo (2001) afirma que há uma distinção entre o trabalho
pedagógico e o trabalho docente, eliminando a ideia de que o pedagogo
obrigatoriamente deve exercer sua profissão exclusivamente em uma escola.
O
Conselho Nacional da Educação, por meio da Resolução CNE/CP/2006, institui as
diretrizes Curriculares Nacionais para o Curso de Graduação em Pedagogia. Este
documento retrata o perfil do pedagogo disposto a trabalhar com educação em
espaços escolares e também não escolares. Portanto, é importante conceituar o
que vem a ser educação formal, não formal e informal, haja vista que o pedagogo
não está habilitado a trabalhar única e exclusivamente com a educação formal.
Alguns
autores costumam a diferenciar somente educação formal e não formal, todavia
Maria da Glória Gohn (2006) faz uma distinção entre os seguintes conceitos:
Educação Formal, Informal e acrescenta a Não-Formal. Ela afirma que:
A princípio podemos
demarcar seus campos de desenvolvimento: a educação formal é aquela
desenvolvida nas escolas, com conteúdos previamente demarcados; a informal como
aquela que os indivíduos aprendem durante seu processo de socialização - na
família, bairro, clube, amigos etc., carregada de valores e culturas pró-
prias, de pertencimento e sentimentos herdados; e a educação não-formal é
aquela que se aprende "no mundo da vida", via processos de
compartilhamento de experiências, principalmente em espaços e ações coletivos
cotidianas. (GOHN, 2006, p. 2-3)
A
educação não formal destaca os processos educativos que têm uma
intencionalidade na ação, pois prevê troca de conhecimento, envolve um processo
interativo de ensino e aprendizagem e proporciona a construção de aprendizagens
de saberes coletivos que, por sua vez, não têm a formalidade do ensino regular,
mas o pedagogo pode e deve atuar como um agente educativo nos diferentes
espaços em que ela funciona: Clubes, Centros Comunitários, ONGs, Organização
Não-Governamental, Museus etc.
Padilha
(2007) explica que quando abordamos a educação não formal: “estamos nos
referindo a toda e qualquer experiência e ação educacional que acontece na
sociedade, que esteja fora das escolas regulares”. Dessa maneira, todo processo
educativo para além dos muros escolares, que aconteça de forma intencional,
corresponde à educação não formal. Ainda expõe que: “São geralmente,
iniciativas da sociedade civil, institucionais ou não, com ou sem apoio do
Estado, que oferecem cursos voltados para as mais diversas modalidades
educacionais.” (PADILHA, 2007, p. 90).
Gohn
(1999), ao afirmar que a educação não formal diz respeito às aprendizagens
políticas dos direitos dos indivíduos como cidadãos, também enfatiza a
participação coletiva e o desenvolvimento de habilidades e potencialidades.
Na
Resolução CNE/CP 1/2006 é apresentado, em parágrafo único, que as atividades
docentes também compreendem participação na organização e gestão de sistemas e
instituições de ensino, englobando, entre outros itens, o item IV, que aborda o
“trabalhar, em espaços escolares e não escolares, na promoção da aprendizagem
de sujeitos em diferentes fases do desenvolvimento humano, em diversos níveis e
modalidades do processo educativo”. De acordo com o art. 6. Da Resolução CNE/CP
1/2006:
A estrutura do curso
de Pedagogia, respeitadas a diversidade nacional e a autonomia pedagógica das
instituições, constituir-se-á de: I - um núcleo de estudos básicos que, sem
perder de vista a diversidade e a multiculturalidade da sociedade brasileira,
por meio do estudo acurado da literatura pertinente e de realidades
educacionais, assim como por meio de reflexão e ações críticas, articulará: a)
aplicação de princípios, concepções e critérios oriundos de diferentes áreas do
conhecimento, com pertinência ao campo da Pedagogia, que contribuam para o
desenvolvimento das pessoas, das organizações e da sociedade; b) aplicação de
princípios da gestão democrática em espaços escolares e não escolares;
Levando
em consideração essa legislação, é importante rever também a formação do
pedagogo que acaba priorizando pelo exercício da docência como eixo central do
seu trabalho. É claro que a docência é o cerne da pedagogia, mas o campo de
atuação do pedagogo não pode ser restrito à docência, uma vez que essa é apenas
uma das especificidades desse profissional.
Um
dos espaços de atuação do pedagogo é o museu, uma vez que este é um espaço em
que coexistem diferentes profissionais da educação. O educador no museu pode
ser um historiador, um pedagogo, um cientista etc.
No
museu, o pedagogo trabalha com educação e cultura. Além de informar e guiar os
visitantes, pode desempenhar outras funções como agendar visitas e adaptar
conteúdos às diferentes faixas etárias dos visitantes. É possível que seja um
mediador entre a bagagem que os estudantes (visitantes) trazem e as informações/conhecimentos
disponibilizados nos próprios museus.
A
presença do pedagogo em empresas é algo que está crescendo a cada dia e, apesar
de existir alguns preconceitos com esse profissional, sua atuação já está se
solidificando nesse campo. Holtz (2006) detalha aspectos pertinentes às
responsabilidades do pedagogo empresarial, entre os quais estão:
1. Conhecer e
encontrar as soluções práticas para as questões que envolvem a otimização da
produtividade das pessoas humanas (...); 2. Conhecer e trabalhar na direção dos
objetivos particulares e sociais da Empresa onde trabalha. 3. Conduzir com
atividades práticas, as pessoas que trabalham na Empresa - dirigentes e
funcionários (...). 4. Promover as condições e atividades práticas necessárias
- treinamentos, eventos, reuniões, festas, feiras, exposições, excursões,
etc...;. 5. Aconselhar, de preferência por escrito, sobre as condutas mais
eficazes das chefias para com os funcionários e destes para com as chefias
(...); 6. Conduzir o relacionamento humano na Empresa, através de ações
pedagógicas, (HOLTZ, 2006, p. 15).
Inicialmente,
quando o pedagogo foi introduzido em empresas, ele tinha seu campo de atuação
delimitado ao setor de RH, investindo na contratação, fazendo entrevistas ou
selecionando candidatos de acordo com o perfil da empresa. Atualmente, o
pedagogo empresarial atua como elemento central na organização empresarial,
sendo responsável, muitas vezes, por capacitações e treinamentos, motivação na
empresa, divulgação do produto, gestão da qualidade, dinâmicas de grupo, entre
outras ações.
A
pedagogia empresarial é uma área que está crescendo, e a formação do pedagogo
com disciplinas relacionadas à didática, à prática de ensino e docência de um
modo geral, pode contribuir com a função comunicativa desse profissional na
empresa.
Atualmente,
diversos hospitais contam com o trabalho da pedagogia hospitalar, entretanto,
há variações no desempenho das funções que cada pedagogo pode assumir nesse
espaço não escolar.
O
pedagogo no hospital acompanhará o aluno (criança ou adolescente) nos momentos
de internação, reabilitação e recreação, podendo fazer uma ligação entre a
educação formal (escola) e a necessidade transitória de ausência escolar, para
que seja garantida a continuidade do ano letivo, a fim de evitar o que a
criança afastada da escola para cuidar da saúde, não fique prejudicada
pedagogicamente.
Alguns
hospitais disponibilizam uma “sala hospitalar” ou uma “brinquedoteca”, nas
quais os pacientes podem buscar, de forma lúdica, o apoio emocional, a
continuidade nos estudos, a recreação, o lazer etc. Cabe ao pedagogo ser o
mediador desse ambiente, oferecendo apoio escolar, bem como atividades
prazerosas.
Outro
espaço de atuação do pedagogo são as editoras, que podem contratar esse
profissional para prestar serviços pedagógicos à instituição. O pedagogo pode
contribuir com materiais para publicação, sendo autor e co-autor de livros
didáticos, de literatura e paradidáticos. Pode também realizar assessoria
pedagógica, isto é, com base numa determinada obra, pode elaborar um material
(encarte pedagógico), com sugestões e orientações didáticas aos professores que
forem adotá-la.
Podem
atuar ainda como avaliadores dos conteúdos das obras, cuidando para que nenhum
conceito equivocado seja publicado, sendo, dessa forma, uma espécie de “revisor
temático”, oferecendo suporte aos demais autores, desenvolvendo também projetos
pedagógicos, cujo objetivo maior é a divulgação cultural de materiais
(impressos, vídeos, áudios etc.).
O pedagogo
também pode atuar em presídios e instituições correcionais, porém, os cursos de
pedagogia não oferecem formação específica para essa área.
Os educadores
sociais das penitenciárias são servidores públicos que prestam concurso para
trabalhar com detentos, assessorando com educação, palestras de
conscientização, aulas (alfabetização de adultos), tutores de EAD, dentre
outras funções. Entretanto, na realidade há poucas vagas para esse mercado de
trabalho e os educadores, muitas das vezes, acabam tendo desvio de função, cumprindo,
entre outras funções, com o papel administrativo dentro da instituição
penitenciária.
O
pedagogo, como agente social, pode trabalhar com ações educativas nesses
espaços, contribuindo com seu compromisso moral e ético, e poderá servir de
inspiração para os infratores e criminosos, para a mudança de vida, com o
objetivo maior de reinserção e ressocialização dos detentos. Outro aspecto a
ser considerado é que o pedagogo pode atuar como tutor de EAD de cursos
profissionalizantes, servindo de base para a profissionalização do interno,
facilitando seu (re)ingresso no mercado de trabalho.
Podemos
concluir que o pedagogo, diferente do que muitos pensam, possui outras possibilidades
de atuação além da escola. Faz se necessário que este profissional se imponha
no mercado de trabalho e não se deixe diminuir, pois, assim como outros
profissionais, possui uma formação acadêmica que lhe possibilita atuar em
outras áreas que não a área da educação. Cabe a ele ser eficiente, criativo,
demonstrar dinamismo, habilidade de planejamento, monitoramento e avaliação,
dentre outros aspectos. O perfil, como fora descrito acima, é abrangente, tendo
como exigências posturas e atitudes necessárias a qualquer profissional.
Referência bibliográfica
BRASIL. Resolução CNE/CP 1/2006. Diário
Oficial da União, Brasília, 16 de maio de 2006, Seção 1, p. 11
CERONI, Mary Rosane. O perfil do pedagogo
para atuação em espaços não-escolares. Anais do I Congresso Internacional de
Pedagogia Social, 2006. São Paulo. Faculdade de Educação, Universidade de São
Paulo. Disponível em: . Acesso em: 03 dez. de 2013.
GOHN, Maria da Glória. Educação não-formal e
cultura política. São Paulo: Cortez, 1999.
______. Educação não-formal na pedagogia
social. Anais do I Congresso Internacional de Pedagogia Social. 2006. São
Paulo. Disponível em: . Acesso em: 14 dez. de 2013.
HOLTZ, Maria Luiza M. Lições de pedagogia
empresarial. MH Assessoria Empresarial Ltda., Sorocaba SP, 2006. Disponível em:
. Acesso em: 22 abr. de 2014. LIBÂNEO, José Carlos. Pedagogia e pedagogos:
inquietações e buscas. Educar em Revista, n. 17, 2001. Curitiba: UFPR. p.
153-176
PADILHA, Paulo Roberto. Educar em todos os
cantos: reflexões e canções por uma educa- ção intertranscultural. São Paulo:
Instituto Paulo Freire, 2007.
Muito Bom !!
ResponderExcluirQue bom que gostou!
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